Eu gosto de céu azul,mar.Gosto de conversar fiado com os amigos,gosto de rir.

25 Februar 2006

O dia em que as mulheres podem tudo














Carnaval da região de Colônia é outra coisa. Aquí a tradição na quinta feira que antecede ao carnaval é as mulhres tomarem o comando da festa . Elas saem às ruas de tesoura em punho e cortam um pedaço da gravata de todo homem ou turista desavisado. A coisa toda simboliza a emancipação da mulher. Coitado de turista japonês. Rarara! Boboeu, zap, metade da gravata ja foi. Os homens nesse dia são alvo das mais diversas brincadeiras. Nas comemorações internas como la no meu trabalho por exemplo os homens presentes tiveram que passar por determinadas “tarefas executadas por mulheres”. Um foi depilado a frio e a seco, rrarara o gerente chefe foi despido e massageado pelas funcionárias, inclusive por mim, rarara o outro foi barbeado, a tarefa do outro foi calçar luvas de boxe, vestir um shortinho apertado com um pepino dentro, fazendo “volume” no calção e dancar em cima da mesa, rarara, pode? Pode. A coisa aquí rola tudo inocentemene que nem poderia contar em público o que rola naqueles bailes de salão daí da nossa terra, viche-Maria! Mão naquilo e aquilo na mão. A falta de roupa aí no Brasil ajuda. O frio aquí tem essas desvantagens tem primeiro que desembrulhar o parceiro. “Vai comer agora ou quer que DESembrulha”, rarara! Isso aquí para nós é festinha de aniversário de crianca de 4 anos, com tias e avós presentes regados a bolo e Ki Suco. Rarara!
Da série: É carnaval na Alemanha

Aí despe aquí veste






















Galera, enquanto vocês sambam no nosso tórrido verão a gente vai tentando ensaiar alguns passos para nos aquecermos aquí nessa geladeira. Carnaval aí o povo se despe e aquí a gente tem que se vestir. O interessante é que a gente pode trabalhar fantasiado. Este ano na quinta feira, quando é aberto oficialmente o carnaval, fui fantasiada de “turista gorda”. Rarara!! Fiquei irreconhecível até para os colegas de trabalho. Um cliente me disse que eu estava parecendo turista americana, só não poderia fazer turismo em pais árabe. Rarara!

Da série: É carnaval na Alemanha

Caindo no riso















A família Schmitz recebe como presente de natal, um pacote dos familiares que emigraram durante a guerra para o EUA. Ao abrierem o presente tinha la, latarias, conservas, doces, chocolates, coisa cara e de luxo para os alemães naquele terríveis tempos do pós-guerra e uma pequena lata sem rótulo de uma farinha desconhecida que logo foi transformada em pão.

Uma semana depois chega a correspondência: “- Queridos parentes, por um descuido meu a minha carta não foi junto com o pacote. Espero que vocês tenham gostado do nosso presente e a propósito esquecemos de dizer que a nossa tia Ana faleceu este ano. Então mandamos as cinzas dela, separada em uma lata para ser enterrada na sua terra natal. Um abraço do tio Josef”

Rararara! A tia ana virou pão. Rararara!

Essa é uma das muitas piadas contadas no carnaval em um palco como na foto. Acreditem.

Da série: É carnaval na Alemanha




Deu Zebra





















Geentes, esta cena é da sexta feira de carná.

Não acertei ainda na loteria, mas dei uma de Zebra. Rarara!

Da série: É carnaval na Alemanha




21 Februar 2006

Uns cantam...

“Minha terra tem palmeiras

Onde canta o sabiá

As aves que aquí gorgeam

Não gorgeam como lá.”














Caríssimos leitores, vocês ja viram um pica-pau de perto?Pois eu sim, ele habita na floresta ao fundo da casa e de vez em quando vem nos dar o prazer de fazer uma visita. Ele é um pássaro muito tímido; com suas garras e o seu rabo (que tem uma musculatura forte) apoia-se para se mover na vertical a procura de insetos e larvas nas pequenas saliências e orifícios das árvores velhas. Com seu bico forte cava o seu ninho no tronco mole das árvores mortas.

Hoje fui buscar lenha para fazer o meu fogo matinal e escutei-o: Trrroctoc-trroctoc. O trrorororcc é contínuo para comunicar-se com os outros e da sua espécie, sinaliza a marcação de território ou fazer a corte à um outra pica-poa.

Uns cantam, outros batem tambor.

O inverno resiste






















Pois aquí o inverno não quer nos deixar. Tivemos uma “onda quente” de 10°, rarara vocês aí podem rir, eu deixo, e voltamos à estação-geladeira. Tudo que temos a fazer é .... por mais fogo na lareira.

Quem faz toma














No inverno a gente tem que arrumar alguma ocupação. Então o Franz aboleta na minha escrivaninha e transcreve um livro para o computador e adivinhem sobre oquê? Quem disse vinho acertou. Aquí não basta tomar vinho, tem que fazer vinho, ter uma vendedora de vinho em casa e ler também sobre vinho. Haja!

Foto: Franz no meu lugar sagrado, a escrivaninha

Wusp? Wuspes... Wúpsis... Vupses? Vupes?

Ha, eh e não , alto-lá comigo, que assim falseio, o mesmo é. Pois ia me esquecendo: o Vupes! Não digo o que digo, se o do Vupes não orço – que teve, tãomente. Esse um era estranja, alemão, o senhor sabe: clareado, constituído forte, com os olhos azuis, esporte de alto, leandrado, rosalgar – indivíduo, mesmo. Pessoa boa. Homem sistemático, salutar na alegria séria. He, he, com toda a confusão de política e brigas, e por aí, e ele não somava com nenhuma coisa: viajava sensato, e ia desempenhando seu negócio dele no sertão – que era o de trazer e vender de tudo para os fazendeiros: arados, enxadas, debulhadora, facão de aço, ferramentas rógers e roscofes, latas de formicida, arsênico e creolinas; e até papa-vento, desses moinhos-de-vento de sungar água, com torre, ele tomava empreitada de armar. Conservava em si um estatuto tão diverso de proceder, que todos a ele respeitavam. Diz-se que vive até hoje, mas abastado, na capital – e que é dono de venda grande, loja, conforme prosperou. Ah, o senhor conheceu ele? O titiquinha de mundo! E como é mesmo que o senhor fraseia? Wusp? É. Seo Emílio Wuspes... Wúpsis... Vupses. Pois esse Vupes apareceu lá, logo vai me reconheceu, como me conhecia, do Curralinho. Me Reconheceu devagar, exatão. Sujeito escovado ! Me olhou, me disse : - “ Folgo. Senhor estar bom? Folgo... “ E eu gostei daquela saudação. Sempre gosto de tornar a encontrar em paz qualquer velha conhecença – consoante a pessoa se ri, a gente se acha de voltar aos passados, mas parece que escolhidas só as peripécias avaliáveis, as que agradáveis foram. Alemão Vupes alí e eu recordei lembrança daquelas mocinhas – a Miosótis e a Rosa´uarda – as que, no Curralinho, eu pensava que tinham sido as minhas namoradas. – „Seo Vupes, eu também folgo. Senhor também estar bom? Folgo...“ que eu respondi, civilizadamente.

João Guimarães Rosa

Grande Sertão Veredas

19 Februar 2006

Pedras vivas















A primavera ainda não chegou.

Sôbre as pedras ha vida

Os vestígos do inverno vão

lentamente, lentamente

desaparecendo.

As tulipas furam a terra

em busca de luz e calor

Os crocos florescem

O jardim promete muitas alegrias

Foto: musgos sobre pedra

15 Februar 2006

Deus me livre!















Quando fomos ao Brasil em 2004 visitamos a região de Paraty. Conheci aquele que é um dos últimos redutos de mata Atlântica. Na década de 80 passei semanas la acampada em Trindade, aquele paraiso. As únicas peças de roupa nos 15 dias eram as do biquine. Tomava banho de cachoeira e andávamos descalço o dia todo. Preguiça total. Aquilo sim que eram férias. Não fazer nada absolutamente nada. Trindade foi paraiso dos bichos loucos na década de 60. De difícil acesso, ficou relativamente preservado até que asfaltaram o “ Deus me livre” uma descida íngrime que desafiava qualquer suspensão de carro. Voltei lá depois de quase... hum... 15 anos. O paraiso virou paraiso infernal. Havia lixo por toda parte e no lugar daqueles quiosques de madeira e palha quase à beira mar tinha agora uns quiosques de alvenaria suspensos horroros. A praia ficou curta e as cadeiras dos butecos se amontovam na praia. O mais interessante foi a mudança do perfil dos proprietários dos tais bares-quiosques. Pedimos um frango à passarinho e quem vem nos servir? Um koreano proprietário do quiosque com sotaque forte de paulista. Eu te digo, antes o local era habitado por pescadores locais e faziam uma certa harmonia com a paisagem. Agora chegou alí a pressa de São Paulo. Antes podíamos comer e beber sossegado um suquinho apreciando a paisagem, agora tem paulista alí esperando que a gente coma logo e saia da mesa para dar lugar para o próximo cliente. O Cachadaço, uma fantástica piscina natural cercada de pedras por todos os lados, antes só acessível a pé numa refrescante caminhada atravez da mata, agora pode-se chegar de barco. Claro, não contentes os barqueiros estacionam o seus barcos DENTRO da piscina natural. Resultado, você não precisa levar óleo de bronzear. Digo a vocês só a descidona era chamada de Deus me livre, agora podemos chamar o resto de Deus me livre. Vamos abrir exceção para o que sobrou da Mata Atlântica e a paisagem da praia do Sipilho. Ainda estão intactos. Ainda.

Foto do Cachadaço,Trindade

Turista sofre














Uma antiga vizinha minha no Brasil que agora mora na Tunísia não gostou a tal cidade da luz,Paris. Para ela a torre Eifel é um monte de ferro enferrujado e cheio de estrume de passarinho. Ainda por cima não conseguiu ir ao segundo andar de medo das alturas. Disse que no primeiro andar tem também uma sopinha de tomate. Sopa de novo. Rara! Uma água vermelha e rala. Ja sei os franceses estão todos macomunados: sopa nos turistas! Pouca, rala e cara. Rarara!

Por falar em Torre Eifel, pedi um último favor no ano passado para o meu amigo Fargas, que estava na Espanha de férias e se dirigia para a França. Ja que o Zé Simão, colunista da Folha, na penúltima Copa não conseguiu mijar no pé da torre Eifel, entao era para ele fazer esse favorzinho e capricar na mijada para a judar a enferrujar mais rapido o monumento de orgulho nacional dos franceses. Ele disse que iria tentar fazer melhor, tentaria fazer cocô no pé da torre, rrarara! Só de piada, claro. Fui contar a piada para o Franz e disse sério subindo distraído o olhar do jornal: “-Ah, não é preciso, pois nos arredores da torre Eifel é cheio de toaletes”. Rarara. Ai, alemão não entende o espírito da coisa.

Mas ha outros turistas brasileiros que entram em fria voluntariamente. A Inês e o Carlos Henrique que moram no Rio de Janeiro disseram que gostam tanto de inverno e neve que ficaram uma hora dentro de um túnel de gelo em Zermat na suiça Alemã. Pode? Pode. Queima a bunda no calor do verão carioca e esfria na Alemanha. Ta certo, cada louco com as suas manias. Raraara!

A outra conhecida minha ao contrário foi de férias na semana passada fugindo do frio e baixou na Turquia. Turquia gentes! Uma hora dessas. Por causa da briga dos santinhos deles, como ela disse, rrarara, a história da caricatura do profeta, ela não se atreveu a sair do hotel. Pior, estava ela mordendo o pão no café da manhã quando a terra tremeu. Terremoto. Socorro! Ô férias, hein!

E o Franz foi se derreter em Ipanema de camisa, calção, boné, chinelo, protetor solar e gravata. Ops, gravata não. Rarara! Turista sofre.

470.520























Esta foi a kilometragem que o meu ex-carro rodou. Vocês pensam oquê? Um velhinho lá em Portugal, motorista de taxi rodou com um Mercedes um milhão de kilometros! Mas ó, carro véio é igual a gente ficar véio, vai dando defeito até tomarmos sérias providências e mandar pro ferro velho. Vocês não imaginem que durante esses 3 anos que o dirigi, o tanto de cartãozinho deixado no vidro: “Nós compramos o seu carro”. Rararara! Aí vocês perguntariam, quem seria o louco de comprar um carro com quase 500 mil kilômetros rodados? Os africanos, claro. Imagino que quarque carro véio lá na África é melhor que não ter nenhum. E olha que os que podem mais são os que conseguem comprar um objeto de luxo desses, como o meu. Mas digo, passei maus bocados com essa lata véia. Ele ja deu pane em todas as posições possíveis: na auto estrada em pleno congestionamento, de manhã afogava isso quando não morria no sinal e pior, morria em pelo cruzamento. Olha que foi um Deus nos acuda. Agora como penitência ele vai ferver o motor no calor da África. Quem sabe era isso, o frio. Rarara!

Adieu Maca !

(Maca é o nome que dei a ele que em alemão Macker, que quer dizer xabu)

14 Februar 2006

Sopa à la Auberge du Brand














Gentes, em setembro do ano passado fomos fazer uma pequena viagem à Alsacia a Sudoeste da França, fronteira com a Alemanha. Palco de disputa de guerra, a Alsacia conservou o seu charme com um patrimonio histórico bem conservado. Cidades medievais são a grande atração turística. No verão ha mais gente por paralelepípedo la que em Belo horizonte em véspera de Natal. O Franz fez tanta propaganda da comida francesa, especialmente da Alsacia, que fiquei com água na boca. Ficamos num pequeno apartamento com cozinha e na primeira noite de estada fomos a um restaurante do tal Auberge du Brand. Na entrada da porta tinha uma cortinona vermelha daquelas para impedir que o ventro frio penetrasse naquele pequeno restaurante. Cá pra nós parecia mesmo era entrada de casa de massagem, faltava só as luzinhas vermelhas. Rarara! Bem, entramos escolhemos um lugar num cantinho aconchegante. A garçonete veio muito gentil acendeu a velinha na mesa e solicitamos o cardápio. Pedimos uma sopinha da casa para esquentar e um prato principal à base de carne de ovelha. Poucos minutos depois vem a garçonete com a sopa, rararara, geenntes, a sopa! Rarara! A sopa foi servida numa, rarara, deixa eu tentar achar um recipiente equivalente ... ah, servida numa daquelas chicrinhas de café dali da Praça Sete que a gente faz bico pra tomar. Rararara!! E nem estava cheia, hein! Rarara! E a colherzinha? A colherzinha também era de café. Rarara! Como é que eles poderiam ser tão descarados assim de servir uma sopa daquelas numa chicrinha daquelas para ser tomada por uma colherzinha daquelas? E o preço galera? Orra meu! Dois euros, isto é quase cinco contos! Só a sopa! Quando veio o prato principal eu ja estava com indigestão. Rarara! Indisgestão de raiva. Resultado, no outro dia fizemos compras no supermercado e resolvemos cozinhar em casa. Pelo menos a gente não teria outra indigestão.

Foto: Aspecto do Hospital de Tückheim, Alsacia.

12 Februar 2006

Caros amigos e leitores















Vocês ja notaram que publico freqüente fotos, texto e poesia sobre Caxambu, quando eu mesma não tento também passar as minhas impressões sobre esta que foi a minha cidade natal. Pois tento divulgar não só história e poesia mas também o projeto dos meus amigos Eustaquio Gorgonne e Manoel Mata Machado o projeto “Chico Cascateiro”. O projeto tem como objetivo levantar e documentar informações mais precisas sobre este que foi o arquiteto de muitas praças, parques, jardins e objetos de arte em argamassa espalhados por essas Minas Gerais e Rio de Janeiro. Esquecidas ao longo dos séculos as obras continuam a nos surpreender. A obra de Chico Cascateiro esta muito bem representada no Parque das Águas. O cimento virou bambu, troncos retorcidos, insetos alojados no oco dos paus. O olho desavisado pensaria mesmo que foi tudo esculpido e forjado em madeira. Engano. Quando adolescentes, íamos namorar na Cascatinha, rara, coberta por bromélias, orquídeas e samanbaias e era muito divertido. Víamos tudo à volta e não éramos vistos... Humm...

Hoje o trabalho dos dois pesquisadores ganhou publicidade e as obras foram a tempo então tombadas pelo Patrimônio Histórico. Pelo desconhecimento da importância do artista algumas outras obras foram tombadas por mãos humanas. Mas ha esperança.

Leiam também em www.tanto.com.br em Eustaquio Gorgonne sobre o Projeto Chico Cascateiro.

Na foto, a Casa de Máquinas no Parque das Águas em Caxambu.

O Cascateiro























O português Francisco da Silva Reis chegou ao Brasil clandestinamente, depois de realizar, em companhia de outros artistas, inúmeros trabalhos em seu país de origem. Quando esteve de passagem pelo Sul de Minas Gerais, já havia executado importantes obras em palacetes na cidade do Rio de Janeiro, entre coretos, sentinelas, pontes e grutas com belos estalactites e estalagmites. De estatura mediana, magro, tez clara mas ja queimada pelo sol da montanha, trajando muitas vezes calça de algodão, paletó e chapéu de feltro com abas caídas, esse simples mas incansável operário conseguiu erigir, em ambiente adverso de sua origem e londe da família, uma obra extensa e singular. Construtores que o conheceram, recordam com admiração, sua maestria em formular aparências e seu hábito, às vezes incompreendido, de passar horas nas matas, em busca de inspiração. Para Joaquim Antonio, idoso que o auxiliou na construção do Parque das Águas , em Caxambu, ele era um “admirador da natureza”(3). Segundo Juca Arthur, o artista “ja era um homem de idade quando trabalhou em Cristina” e lhe parecia, aos seus olhos de menino, que o fazedor de cascatass tinha um “rosto cadavérico”.

Em fotografia de 1921, na cidade de Carmo de Minas, frente ao repuxo do jardim público, Francisco da Silva Reis segura um balde de massa na altura do joelho enquanto deixa a mão esquerda no bolso da calça em busca de uma pose mais valorosa. Mesmo nesse momento não se desfez do seu instrumento de trabalho e, humilde como qualquer trabalhador braçal do século XX, entregou-se inocentemente para o obturador da camara fotográfica. Vendo-o em trajes de trabalho, a calça manchada, compreendemos o porquê de tanto esquecimento em torno de usa pessoa. Numa sociedade onde o brilho das palavras, o brilho dos anéis e o brilho negro do café eram as lanternas da vida social, parca consagração restaria a um itinerante construtor de cascatas.

Francisco da Silva Reis era um trabalhador pertinaz, iniciando seu ofício já nas primeiras horas do dia e deixando as ferramentas ao cair da tarde. Como a maioria de suas obras era construída em lugares abertos, ocorria-lhe tirar vantagens das condições climáticas, avaliando a quantidade de argamassa preparada para as modelagens. Suas peças não poderiam ser recolhidas nas mudanăas bruscas do tempo. Em caso de chuva (principalmente nos meses de fevereiro e março), não poderia reaproveitá-la. Portanto, era imprescindível que houvesse agilidade na construção, tirando melhor vantagem dos dias ensolarados. Depoimentos colhidos durante as pesquisas confirmam que o artista “ia fazendo sua obra à medida que o dia transcorria”.

Trabalhando no Sul de Minas Gerais, longe da tutela dos paisagistas ancorados na administração pública das capitais, o artista teve a liberdade necessária para criar enredos naturais interagidos com formas modernas, deixando assinatura nas principais peças do seu acervo. Em Caxambu, no Parque das Águas, gravou seu nome por extenso na argamassa e abaixo dele imprimiu a data em que os trabalhos foram concluídos na cidade. Em Carmo de Minas e Itajubá, registrou F.S.Reis, abreviando o prenome. Mestre das foram assimétricas e do movimento, o que teria levado o artista a servir-se da letra de forma entre duas linhas simulando pautas? Acostumado com a complexa linguagem da natureza, onde linhas curvas nutrem e retalham os espaços, qual a razão da letra de forma numa caligrafia forçada, onde o risco das pautas é aparente? O desejo ingênuo de simular a folha de umcaderno seria a submissao ao inequívoco prestígio que a sociedade legou à escrita sobre os outros registros encontrados na natureza? Assim, sua assinatura é o único traço regular e simétrico no mundo das formas contorcidas.

Também identificam suas obras alguns símbolos discretamente dispostos nas modelagens: rosas, pequenos ramos com tres folhas lanceoladas e galhas comuns às árvores. As assinaturas traduziam a consciencia do cscateiro emergindo de uma arte anônima e transformando-a num revigorante recamo de formas vegetais.

Entretando, os embelezamentos que ilustravamos espaços públicos e a intimidade dos jardins conheceram, no decurso do tempo, o abandono. E tão implacável e irreversível foi o expurgo dessa arte e desses artistas que se dedicavam à construção de imitação da natureza, que o registro da profissão de cascateiro foi suprimido dos dicionários modernos. Em 1939, o Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa, organizado por Laudelino Freire, não registra o vocábulo cascateiro e os dicionários recenes apresentam cascateiro (cascata +eiro) como “aquele que diz ou escreve cascata”, isto é, cascateiro na acepção da pessoa que mente ou mantém “retórica, sem fatos, e geralmente longa” (FERREIRA,1999)

As informações sobre o seu paradeiro tornam-se imprecisas a partir de seu embarque nos vagões da Rede Sul-Mineira para outras localidades. Aos amigos e patrícios que deixava, só restavam as lembranças daquele trabalhador que contribuiu para a inserção de muitas cidades no glamour da belle époque, alumiando com argamassa as sobrecasacas e alimentando a imaginação das crianças com o envultamento das cascatas naturais.

A partir de 1940, essa escola de paisagismo, que floresceu na Europa durante o século XIX, estava sepultada juntamente com os seus principais mestres-de-obras.

Texto retirado de “Jardins esquecidos”- (A arte em argamassa na obras de Francisco da Silva Reis) de Estaquio Gorgonne/2004

Leia mais em www.tanto.com.br Eustaquio Gorgonne/Chico Castateiro

Teste de nervos













Galera, depois de sofrer com as aulas teóricas e práticas da auto-escola, chegou o grande dia da prova. Era um manhã nebulosa, como quase todas manhãs por aquí. Fui para fazer o teste como quem sobe ao cadafalso da forca. Pontualmente senta la atras o testador chefe e pus o carro em movimento. Entra aquí, da seta acolá e fomos parar no bairro onde morava, Mülheim em Colônia. Então começou o testa-nervos. O meu instrutor e o instrutor chefe entabularam um papo e foram conversando como se nada tivesse acontecendo, só me dando as ordens “ -Para a direita” “-Para a esquerda” e assim foi. Numa certa altura dos acontecimentos ataca o meu intrutor, “-Ó aquí, aquí neste cruzamento vi um acidente horrível” e o testador-mor “-É, e como aconteceu?” “-Ah, um sujeito avançou o sinal, bem aquí...” e eu la dirigindo tentando me concentrar. “-... e passou por cima de uma mulher e um carrinho de bebê. O carrinho e a mulher foram jogados bem alí” e apontou com o dedo o passeio. E eu la, firme como prego no angu no volante. “-Morreram na hora.” Pensei, Jisuis!

Não dirigi uns dois kilômetros e mais uma história cabeluda. Antes de cruzarmos uma linha de trem ele atacou : “-Imagine você...”, dirigindo-se ao provador atras,” “-que com um outro motorista o carro morreu no cruzamento da linha de trem. E o trem vinha vindo, vinha vindo... Ele estava acompanhado da sogra que estava sentada ao lado. O motorista conseguiu sair do carro, mas a véia ficou la entalada. Ela era gorda demais.” Nesse momento eu estava também cruzando a linha do trem. Não sabia se era para eu rir ou desesperar. Demos uma volta no quarteirão e ele atacou de novo, “- Mas o senhor sabe, tinha uma aluna que aprendeu a andar de motorcicleta comigo. Fiquei sabendo que ela sofreu um acidente gravíssimo na auto-estrada. A cabeça foi para um lado e o corpo para o outro... Entrou debaixo de um Mercedes.” Geeeennnntes, aquilo era para me aterrorizar. Vocês sabem, estava acompanhando as histórias e tentando me concentrar no trânsito. Na hora que ele contou da mulher gorda, eu nao sabia se ria ou ficava séria. Agora ca para nós, a vida no Brasil deixa a gente experimentado e calejado de histórias tenebrosas. Então, na última não agüentei e falei de brincadeira, “Se vocês continuarem a contar essas histórias vou parar o carro e descer.” Na mesma hora calaram o bico. Última curva, ufa! Passei, passei raspando.

Foto: Eu no volante a caminho de casa.

11 Februar 2006

O muro












O muro de Berlin caiu e se espatifou em milhões de pedaços que estão espanhados por todo mundo, inclusive pode-se comprar em Berlim como souvenir. Ao ver o muro caindo o prefeito daquí organizou logo para que Kreuzau também possuisse um pedaço da história.

Muitos cidadãos fugiram para o outro lado em busca de novos horizontes. A fuga aconteceu 3 de outubro 1989, hoje data comemorativa da unificação das duas Alemanhas. Com picaretas, martelos o povo foi demolindo aquele aleijão que dividia a cidade e aos pedacinhos o muro foi caindo. Então, quando o muro foi completamente removido os cidadaos berlinenses viram o real da coisa: O grande atraso tecnológico tornou sua produção do ponto de vista do capital não competitiva. As fábricas popuilam. Os carros sem catalizadores empestavam o ar de fumaça e se não bastasse, os ventos levavam a poluição para as cidades vizinhas à oeste. A política do pelo emprego não resistiria à modernidade resultando o desemprego em massa. Visitei Berlim em 1997 e as marcas do passado eram ainda bem visíveis. Nas paredes das casas sem reformar ainda se viam os vestígios da guerra de 45. Eram perfurações causadas pelas bombas e tiros. O isolamento também causou um isolamento dos cérebros. Fechados num regime comunista os skiens-heads encontraram terreno fértil para se desenvolver. Ao visitar o túmulo da Rosa de Luxemburgo no cemitério histórico da cidade de Berlin, onde estão enterrados os comunistas, trombei com um grupo deles. Cabeça raspada, vestidos de preto e calçando coturnos, fizeram piadinhas e me provocaram. Depositei uma rosa vermelha no túmulo e sai depressa de la pensando que a Rosa e o Karl Leipnick, seu companheiro estavam mau acompanhados em cima da terra;eles que tanto queriam a igualdade da sociedade... Pois hoje fui ao centro fazer compras e dei de cara com o muro. Fotografei-o.

Pequenos grandes sonhos














Os alemães tem um olhar muito interessante sobre as outras realidades, digo, realidade longe que eles estão acostumados, pelo menos a nova geração, e que só pode ser captada pela visita em loco ou através da televisão. Novamente comento sobre um documentário que vi na TV sobre um povo que vive na periferia do Cairo, Egito e que como no filme "Ilha das Flores", lembram?, vivem do lixo. Vivem não somente DO lixo, mas NO lixo. São catadores, separadores de plásticos, papéis, metais e tudo quanto é reclicável. É uma reprodução do que acontece em vários paises pobres e a cena poderia ter sido rodada em São Paulo, Bombaim ou Joanesburgo. A tonalidade da pele mudaria indo de branco à moreno claro, passando a escuro e negro-negro dependendo do pais, assim como da língua. No caso esse povo que vive no e do lixo da cidade do Cairo se chama “Savalin”. Impressionante. Um senhor ja idoso para o trabalho pesado dizia na entrevista que ele estava contente la. Comia durante o dia queijo de cabra com pão e a noitinha a sua mulher cozinhava a refeição quente do dia, basicamente legumes. A equipe de filmagem alemã então ganhou uma certa confiança e comecaram a filmar o dia dia dos Savalins. Atras das barracas e paredes de zinco tinha uma pequena padaria, barberio e lugar para jogar cartas e bilhar. Eles constataram que ali havia vida... Hummm...

O maior sonho desse povo que vive do lixo era ter uma casa de alvenaria, com banheiro e se possível ... um fogão a gas. Sonho que um alemão estava tentando tornar realidade ao planejar a construção de casas ao lado do imenso lixão, onde as pessoas pudessem separados do lixo, cozinhar e dormir. O interessante era que os Savalins viviam em harmonia e quase não havia brigas entre os casais. As mulheres trabalhavam duro assim como os homens. Digo a vocês que ainda existe pior situação que as favelas nossas... Alguém pode acreditar nisso? Ao serem perguntados o que gostariam que mudassem em suas vidas o senhor ja de idade respondeu igual a sua irmã, que também trabalha la, NADA. Eles eram felizes, pois ganhavam o seu sustendo ali e tinham o que comer. Não é preciso dizer mais nada.

Ah, a propósito, um cliente meu também sonha com um fogão à gas. Ele veio ao meu estande comprar o seu vinho frances favorito de 300 euros a garrafa e confessou triste que decidiu tarde colocar um fogão à gas na sua cozinha de 50 metros quadrados, mas não poderia mais fazê-lo, pois as instalações de gas teriam que ser feitas. Então ele iria continuar sonhando com o um fogão à gas...

Foto: Franz Hecker, os nossos Savalins ao fundo

10 Februar 2006

Soledade de Minas















Em outros tempos as máquinas de ferro

Cruzavam seus chifres e queimavam os cascos

Na agulha grossa dos dormentes.

As caldeiras ferviam nas locomotivas

E o vapor tecia sonhos de guerra

No peito dos soldados.

As cidades ferroviárias estavam no apogeu.

Levavam bois nas classes noturnas,

Esparramavam óleo no joelho dos vagões,

E faziam o ofício de mulheres-cortesãs,

Fiando suéteres para a História Industrial.
Havia cabelos esvoaçantes, náuseas,

E na dobra do morro o olhar da lua

Comia a cauda agitada dos trens.

Havia o pasmo das crianças e moças

Perante a violência das invenções inglesas

Nas gargantas úmidas de Minas.

Hoje, o silêncio desceu sobre os trilhos

E todos foram escondidos num casaco de capim.

Eustáquio Gorgonne www.tanto.com.br

Foto Fargas

09 Februar 2006

Caça grossa na pista
















14 de maio vão fazer 4 anos que estou com o pé na estrada.

Mas fazer a bendita carteira de motorista, gentes, foi pior que vestibular na Federal para medicina. Rararaa! Difícil pra burro, so! Começa com a língua. Eu podia escolher a língua, portugueschh de Porrtgalll ou alemão. E eu claro, Cleide, escolhi português. Pensei, mole. Mole ? Rarara ! Primeiro, português de Portugal nao é português brasileiro. Eles usam alguns termos muito diferentes dos nossos. Tinha la no livro da auto-escola a pergunta: “No entardecer com que você pode contar: resposta a)- Pista livre sem tráfego b)- Neblina densa c)- Caça grossa na pista (?). Imaginem a resposta certa, Luciano! Rararaa, claro, Caça grossa na pista. E aí vocês me perguntariam, mas gentes, oqueéqueisto? É animal selvagem na pista. Rarara!! E por aí afora. A tradução tava tão ininteligível que eu desisti e fui mesmo fazer o vestibular de medicina em alemão. Era mais fácil que no português. Ah, aulas práticas foram também de matar, matar de rir. O intrutor era um simpático sessentão, quase aposentando. No segundo dia, disse, segundo dia de aula prática de volante, fomos para as temíveis auto-estradas. Temíveis, porquê o povo aquí dirige como doido. São umas três ou quatro pistas em cada direção e a gente tem mais que olhar pra tras no retrovisor, para ver se não tem carro trepado no seu parachoque, do que à frente. Se errou uma seta para ultrapassar, ta no sal. Pois eu la, entrei na auto-estrada tremelicando. Então o intrutor dá uma cochilada, rarara. Vocês perguntariam como alguém pode cochilar comigo ao volante na segunda lição, rarara. De repente ele acorda assustado, olha para a grande placa que indicava a velocidade e grita: ”-Acelera, acelera”! E eu, “-Não posso, a velocidade máxima é 80”. E ele ”-Mas é quando tá molhado!” E eu “-Mas tá chovendo, intrutor!!! Rarara, o cara acordou do pesadelo em pela auto-estrada e não sabia o que estava acontecendo.

Resumindo, passei no teste escrito e prático de primeira. Suei. De vez em quando volto do trabalho, ao entardecer, vejo mesmo os veados selvagens pastando bem perto da pista.

Leve vantagem você também

Hoje não esta um bom dia para sair la fora. Neva. Quando aquí neva não é parecido com aí quando chove. Neve é outra coisa. É fria e escorrega. Existem diferentes formas de neve. Neve molhada, neve seca, grandes flocos, pequenos flocos. Depende da temperatura e humidade do ar. Mas o pior de tudo é dirigir na neve. Eu que fiz minha carteira de motorista aquí e imaginem que eles tentam te explicar tudo tintim por tintim, quando você esta na escola auto-escola. Não pode freiar brusco, não pode virar o volante repentinamente, nos cruzamentos preste atenção porque você pode derrapar. É tanta teoria e prática mesmo a gente adquire na estrada. Geeentes, peguei uma nevasca no caminho de casa na semana passada. Na hora a gente esquece tudo. Rarara! Dirigir no breu ainda vai, mas debaixo de neve. Queria ligar para o Franz para dizer que chegaria atrasada, mas o telefone é daqueles tão pequenos e as teclas tão difíceis de achar que desisti de telefonar com o carro em movimento. Quis encostar o carro, mas não dava. Ia ser o maior congestiô. Imaginem que tem uma fila de carro atras e se pisar no freio a coisa mela mesmo. Engavetamento em massa. Então o jeito foi pisar leve no acelerador e seguir em frente. Bem, 40 km em duas horas, paciência. O Franz já estava pensando o pior quando cheguei em casa. Mas então a gente pos uma cervejinha para esfriar la fora na neve e... relaxamos. A neve tem suas vantagens...

05 Februar 2006

Cachorrada












Geeentes, para dizer que não estou mentindo e inventando coisas (mando abaixo o título em ingles) li no "The Independent", que tanto os cachorros e gatos como os donos estão tomando remédios para prevenir doenças da velhice . Imaginem que os cachorros e gatos estão ficando gagas na Inglaterra. Rarara! Pode? Pode. A sociedade inglesa e acho que a Europa toda é conhecida por gostar de animais de estimação. A bicharada é lavada, escovada, vestida, tem veterinário, dentista e seguro saúde que nem gente. E com todo esse mimo os bichos vivem muito, claro e vão ficando cada vez mais parecidos com os seus donos. Um véio de 72 reclamou que a sua cadela de... 17 anos estava ficando com o comportamento estranho, não reconhecia mais o dono, latia desesperadamente e estava ficando impossível.

Aí os veterinários a examinaram e chegaram a conclusão que a bicha tinha arterosclerose e alzenreimer, aquela doenca do esquecimento. Pode? Eles estavam dando agora remédios para os bichos "prevenirem" as doenças da velhice. Disse que depois que a cachorra tomou os remédios anda fazendo caminhadas norrrmais, rararara, e melhorou o seu comportamento. Ele espera que com os medicamentos para a cadela eles possam descobrir medicamentos para ele também. Rararara! Os velhos aquí ja latem sem remédio imaginem tomando mais pílulas?


(Mad dogs (and an Englishman) takemorning pill for old age By Katy Guest Published: 10 July 2005)

Foto: Penélope e eu

As fontes de Caxambu























Foto: Fonte Don Pedro
Atencioso amigo.

Esta foto que lhe envio é para nós uma

tradição da visita feita naqueles anos passados pelo nosso

imperador a esta cidade.

Eny Aires
Dedicatória no verso do cartão


Por Eustáquio Gorgonne

1
A fonte Conde D´Eu
seca das seis horas
às vinte e duas horas
Durante a noite jorra
solidão.
2
Vaza dia e noite vaza
Tereza Cristina.
Vindo ao seu calcanhar
alguém do fundo da terra
a põe para fora.
Passagem que continua
clarificando o mijo
dos turistas.
3
Alcalina, inodora.
Há quem prefere prová-la
pelo umbigo.
E nisto duplica o prazer,
espelho engolido aos cacos,
vestígio dos nobres.
Traz esculpida na gárgula
a mão da princesa.

A extensão do coto somos nós.
4
Dona Leopoldina é mescla
de minérios e desejos.
Daí, ganhou ferragem,
corpete que lhe ajusta
por baixo das tintas.
em decúbito, perfurada,
ela se entrega à cidade.
Breve será um filete,
remelas de cego.
5
Dizem que foi mulher-dama
a primeira.
Depois vieram as noivas
à fonte chamada Beleza.
Cavalheiros nunca provaram
um copo ou medida menor:
medo tal que o duro metal
se afeminasse.

Eustáquio Gorgone de Oliveira nasceu em Caxambu, Minas Gerais em abril de l149. Licenciado em Letras e Pedagogia, sua obra poética encontra-se publicada em diversas revistas e jornais do país e distribuída por onze livros. Participou da Antologia da nova poesia brasileira, organizada por Olga Savary, bem como da edição especialmente dedicada ao Brasil pela International Poetry review, publicada pela Universidade da Carolina do Norte (USA). Recentemente sua poesia foi incluída na coletânea A poesia mineira do século XX, organizada por Assis Brasil. Participa também do projeto “Chico Cascateiro” de recuperação da obra do escultor português, cujas obras estão espalhadas pelo Parque das Águas de Caxambu e em diversas cidades do Sul de Minas. Leia mais tanto.com.br

01 Februar 2006

Saudações da terra do nada




14 de fevereiro de 2001
Prezada Solange.
Espero que em sua cidade o inverno esteja menos inversoso, o sol mais solarengo, a felicidade mais feliz e que os pássaros já estejam cantando nas árvores e dentro dos despertadores. Espero também que tenha recebido as duas cartas que viajaram, no mes passado, dentro de um único envelope.
Aqui, onde nenhuma rua tem sabor, o céu continua azul e a noite aposta, em vão, suas belíssimas estrelas com os tolos parceiros de cidade. Só à tarde, há um ligeiro alvoroço : academias, igrejas, assembléias e aparelhos sonoros saem à caça da população. É o extase caxambuense. Depois, a depressao: Trançador, Rua da Palha, cemitério, Bosque, Isolamento, Alguém come-couve, Tião Louco, a Linha do Bonde, a Favela, o crime de Suzana, o sorriso dos Gadbens, matadouro municipal, o córrego Bengo, o tremendal, o morro, o asilo Sto. Antônio, as freiras de chapéu-grande, a moça esfaqueada, Sílvio Canjica, o casarão abandonado dos Guedes, o lago assoreado, a Rua dos Porcos, Alto dos Cabritos, o supermercado (onde vagam os catecúmenos da cidade), o bairro do Sare e da Mombaça, o reformatório chamado Patronato, enfim, uma perfusão de lúgubres paragens e personagens condenados ao vazio.
(Da colecao cartas dos amigos
Eustáquio Gorgonne, www.tanto.com.br )

Foto: Caxambu, início do século XX